quinta-feira, 9 de julho de 2009

SERIA BLASFEMO INVOCAR O NOME DE DEUS PARA ATRIBUIR À SUA VONTADE A DOR DESTA TRAGÉDIA?


Dias atrás, como sempre faço, compareci à reunião do grupo de estudo Liderança Cristã, aqui em Brasília, e, com muito interesse e grande satisfação, presenciei uma belíssima palestra com o tema "Paulo: Apóstolo do Cristo Ressuscitado", trazida pelo nosso irmão e amigo Professor Francisco Salatiel. Trata-se de excelente exegeta bíblico com formação inclusive em Roma, logicamente da quota dos católicos do grupo inter-confessional que tenho privilégio de fazer parte desde 1996. Acrescento um dentre muitos predicados pessoais, a sua experiência pastoral como sacerdote por importante tempo de sua vida, a partir do que se permitiu "retirar-se" para constituir família abençoada. Experiência igualmente rica compartilhada com uma rede de amigos pessoais seus, alguns, poucos, comuns, conhecida como "movimento ou comunidade padres casados".


A sua sobredita palestra, seguiu o fio condutor que perpassava pela contemplação da "visão secularizada de mundo", em voga nos dias de hoje contrastada com a do "mundo mediterrâneo" do 1° Século A.D., donde se discerne o pano de pano para o esposamento por parte de Paulo de idéias marcadas pelo estoicismo de Sêneca, de um lado, por sua condição de cidadão do Império Romano, e, por outro lado, pela visão apocalíptica judaica dada à de fariseu.


Nessa linha, não incidentalmente, traçou-se com maestria o "perfil do Apóstolo em coerência com as linhas fundamentais de sua pregação". Por conseguinte, destacam-se os traços marcantes na vida de Paulo. A sua experiência com o Senhor Ressurreto. A idéia paulina de que "a força da graça" se "realiza" ante a fraqueza humana. A visão ministerial do Apóstolo de "não dominar e destruir, mas edificar". O seu desprendimento em "pregar gratuitamente o Evangelho... se sustentando com o trabalho de suas mãos". E, por fim, a sua imitação de Cristo em carregar no seu próprio corpo a morte de Jesus.


A partir desses traços, indica-se como núcleo de sua teologia o poder que emana da experiência da Morte e da Ressurreição, cuja síntese seria, ao meu ver, a pregação do "Cristo e este crucificado".


Encerra dizendo que o mais importante em Paulo não era o pensar e falar mas o "ser em Cristo", ser uma "nova criação", coisa de gente adulta e responsável que se envolve no compromisso de "construir" um "mundo novo" pelo "poder do Esprito derramado em nossos corações (Rom. 5,5)".


Como se vê absolutamente tudo gratificante e de supino edificante.


Nessa altura alude à "realidade brutal e às vezes trágica da morte". Isso porque inicialmente dizia "parto de um acontecimento trágico que nos abalou a todos... o desaparecimento do vôo 447, da Air France na águas do Atlântico", com a perda de 228 vidas.


"Porque partir desse fato para a nossa meditação de hoje? É que precisamente nessas ocasiões, em que vida e morte se tocam, afloram nossa visão de mundo, nosso modo de pensar e sentir a existência. Perscrutar a fundo nossas crenças e convicções de leitores hoje dos textos paulinos possibilita-nos, sem dúvida, a atitude de escuta e abertura, para que não sejamos meros ouvintes, mas atores e praticantes da Palavra de Deus (Tgo 1,22)".


Agora sou eu quem falo. Não entendo por que certas pessoas dizerem não ver propósito nessas ocorrências brutalmente trágicas. Questiono se diante de apenas trivialidades, previsibilidades e de conseqüências normais ou comuns é aflorado o que se aflora na mente dos reles mortais? Será que diante do comum qualquer homem ou mulher pode-se ver como é em sua condição de mortalidade de fato reles?


A pergunta que ainda ecoa, porque com freqüência nos entristecemos ante essa realidade? Por que não respiramos mais "a atmosfera paulina de entusiastas convidados a entrar no cotejo triunfal" de I Tess. 4:17? "São tantos e tão momentosos os porquês que talvez seja a melhor resposta o silêncio aberto à escuta do que o Senhor pode nos ensinar ainda hoje...".


O silêncio cauteloso dos pobres mortais é importante, uma vez que o incidente, que parece inicialmente denotar a atitude de o homem transferir a sua responsabilidade pela tomada de decisão e correção de rumos para a tecnologia, nos faz sermos conduzidos à uma profunda reflexão com respeito aos novos parâmetros que vem sendo propostos pela ecologia holistica, em citação a Boff, L. em seu livro Ethos Mundial, Letraviva, Brasília/DF - 2000. Tai um propósito por demais nobre. Seguimo-lo.


Tais novos parâmetros ou conceitos "provocam governos e organizações civis para uma tomada de posição mais responsável e de respeito à natureza, com o objetivo de relativizar a hegemonia da mão invisível do mercado e da razão instrumental entronizados quais novos deuses".


Nesse sentido, é importante acompanhar o raciocínio compungido pela tragédia que o leva a questionar sabiamente a “visão secularizada do mundo”. O que levar a tragédias, ou pouco pode adiantar no sentido de evitá-las. Entretanto, a "a tecnologia criada pelo homem não esconde seus propósitos de sobrepujar e domesticar as forças da natureza. E quando isso não acontece num vôo transatlântico como o da Air France acidentado, volta-se para a máquina quase autônoma que falhou, para tantos e tão sofisticados instrumentos que não estavam mais sob o controle humano, a não ser indiretamente na automação gerada pela informática".


O pressuposto seria de que esse incidente e semelhantes têm causação imediata na falha do sistema de monitoramento e de imediata correção de rumos. Dos controles. Também acho que quem detém o controle pode até garantir com largo grau de probabilidade de que controlará (‘kiberneterá’!) no sentido de que a nave chegará ao seu destino e todas as vicissitudes intervenientes poderão ser dominadas. Para tanto haja todo o cabedal de conhecimentos e instrumentos à disposição do piloto. E para o auxilio deste, haja todos os cálculos, os mais meticulosos e complexos, são realizados instanteneamente. Hajam relatórios expedidos visualmente por telas de cristal líquido a contemplarem alternativas de solução. Haja o cálculo da melhor alternativa, ponderados os fatores ponderáveis, conhecidos e até desconhecidos. Por conseqüência falha o homem mas não haverá de falhar a máquina, e o pensamento imediato entrega ao chamado piloto automático e deixa acontecer o que acontecerá. Lasser faire, lasser passer. Perfeita a conexão entre a idéia da mão invisível do mercado e a razão instrumental. O que poderia dar errado? O homem acumulou tanto conhecimento, sistematizou tanto conhecimento e sobre os quais formulou tantos modelos, o que ainda poderá sair errado?


Ocorre que o homem ainda não inventou a máquina capaz de ao seu feitio ponderar o imponderável. Mas, para isso não precisa de máquina. O homem pondera o imponderável, e o deve fazer pela máquina. E ele o faz. Tai as suas preocupações, angústias, ansiedade, medos paralisantes, alguns até injustificáveis, e outros injustificáveis até que fatos supervenientes e inesperados para os outros acontecem.


Para quem crê, há um Deus imortal que também pondera o imponderável, para o mortal. Portanto, diante dessa demonstração de temeridade que é o homem desobrigar-se, negligenciar-se em função da máquina, esperava-se repor o lugar de Deus como pelo menos de espectador desses incidentes. E há quem o coloca como agente.


O irmão não o retira expressamente do papel de simples espectador no momento presente dos fatos. Coerente com os pensamentos de Suarez e Molina e corroborado com o de Armínio, eminentes teólogos cristãos, terá que admitir que Deus sabia antecipadamente o que viria acontecer. Mais do que isso, Ele teria todo o poder de evitar e não o fez por algum propósito escondido na impenetrável mente de Deus. Perder-se-ia a consolação saber que Deus sabe, vê, escuta e sente e deixa acontecer, não interfere, pois há um plano maior a ser seguido?


Esse pensamento diverge do de Agostinho corroborado com o de Calvino. Além de concordarem com o fato de que Deus sabe, ouve, vê e sente até antecipadamente todas as coisas, “desde toda eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, ordenou, livre e inalteravelmente, tudo quanto acontece; porém, de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias antes estabelecidas”. Além disso, “pela sua muito sábia providência, segundo a sua infalível presciência e o livre e imutável conselho da sua própria vontade, Deus, grande Criador de todas as coisas, para o louvor da glória da sua sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia, sustenta, dirige, dispõe e governa todas as suas criaturas, todas as ações e todas as coisas, desde a maior até a menor.”


Nesse caso, esta teologia faz de Deus um ator, um agente em meios às tragédias humanas e de fato, como bem lembrou o palestrante, isso aproxima do estoicismo, desenvolvido na época helenista, que teve em Sêneca uma das melhores expressões latinas, de que deriva a "convicção de que o homem faz parte de um todo, em que tudo está conectado e unido por uma ordem providencial. Cita-se Sêneca, “A providência comanda o universo e um deus se preocupa conosco”. E como bem observou o palestrante algo muito semelhante povoava a mente de Paulo quando, inclusive, dizia “Pois sabemos que todas as coisas trabalham juntas para o bem daqueles amam a Deus, a quem ele chamou de acordo com o seu plano” – Rom 8,28.


Daí por que algo soou um pouco estranho quando ouvi “seria blasfemo invocar o nome de Deus para atribuir à sua vontade a dor desta tragédia, como falar em milagre para os poucos que se salvaram por não terem partido. Na verdade, tudo se concentra no terra a terra, ou melhor no ar e mar das causas e efeitos imanentes às ações humanas e aos fenômenos naturais. É bem possível que no intimo dos familiares das 228 vitimas, tocados pelas preces particulares e publicas (na Candelária do Rio e em Notre Dame de Paris) o nome de Deus e de seu filho, Jesus Cristo tenha sido invocado não em vão, mas com a fé dos justos, reunidos na assembléia dos santos.”


Confesso que a palavra unívoca blasfemo me soou mais profundamente do que a expressão que me pareceu equivoca “tudo se concentra”. Ele quis dizer que todos os fatores se concentraram no terra a terra, no ar e mar, nas ações humanas e evitou qualificar esses fatores de determinantes e por isso confesso ter entendido que “tudo consiste”, tudo se resume, as fatores terreais ou aéreos e não afetam a esfera da morada de Deus.


Há, porém, quem extrapola esse pensamento. Entendem que por um momento se estivesse alijando de Deus de sua onipotência e onisciência e se admitindo que há coisas e causas que por inexistentes em determinado momento são indeterminadas e não são cogitadas por Deus, e que tudo acontece sem propósito algum. E Deus? Bem, de uma forma ou de outra temos que preservar em nossos pensamentos a santidade, a perfeição moral de Deus e por isso seria impensável que de alguma forma Deus pudesse pensar em algum mal para quem quer que seja e assim por algum motivo não puder envidar esforços pra evitá-lo.


De certo que esse pensamento moderno está em conflito com o de Paulo Apóstolo, não faz jus ao ensino da Escritura.


Então voltamos à pergunta: seria mesmo “blasfemo” invocar o nome de Deus para atribuir à sua vontade a dor desta tragédia, como falar em milagre para os poucos que se salvaram por não terem partido?


Bem, de qualquer sorte sai da reunião com o ensino de que temos mesmo que nos comedir em nossas declarações acerca das tragédias que nos assolam.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Igreja Reformada Holandesa e a Teologia do Apartheid na África do Sul.

1829 - A Confissão de Belhar tem como pano de fundo a história e a teologia racial, racista, segregacionista do apartheid na África do Sul. O ponto de referência comum em tudo isso, dentro do arcabouço histórico da igreja, é a Igreja Reformada Holandesa (DRC, ou NGK - http://www.ngkerk.org.za/). A separação com base na raça remonta a 1829. O Presbitério da Cidade do Cabo da DRC reunido em 29 de abril de 1829 para tratar de uma consulta da igreja local de Somerset West dizia respeito à administração da Santa Comunhão a quem se chamou de “pessoas de ‘cor’”. A pergunta a ser considerada era se “às pessoas de ‘cor’, que foram confirmadas e batizadas, devem ser concedidos, juntamente com os ‘cristãos nascidos de novo’ (pessoas brancas), fazer parte da Ceia do Senhor ou se estas pessoas devem tomar parte da Santa Comunhão separadamente.

- 1857 - No Sínodo de 1857 da DRC esta pergunta sobre a segregação ou não, foi tratada e pavimentou a forma pela qual na prática veio expressar a separação e o racismo da igreja. O Sínodo de 1857 expressou em linguagem ambígua que indicava claramente que não poderia seguir a risca os claros ensinos contidos nos princípios bíblicos. Disseram SIM tanto na questão de receber as “pessoas de cor” num mesmo corpo espiritual quanto a que eles deveriam tomar comunhão separadamente. Ante sua inabilidade em adotar posição qualificada sobre a matéria, abriu as portas para o apartheid eclesial e social. Na decisão do Sínodo da DRC se lê: 'O Sínodo considera desejável e de acordo com a Santa Escritura que os nossos membros ‘de cor’ (não-brancos) fossem aceitos e iniciados em quaisquer de nossas igrejas locais se isso fosse possível; mas aonde esta medida for adotada, como resultado da fraqueza de alguns, poderia obstaculizar a obra de Cristo entre as pessoas ‘de cor’ (heathen), em seguida as igrejas deveriam ser ajustadas às pessoas ‘de cor’, ou ainda ajustarem-se de modo que pudessem desfrutar dos privilégios cristãos em edificações ou instituições separadas”.

Esta decisão provocou “a solução final” para este problema de cor (heathen), com o estabelecimento da primeira igreja separada racialmente em 1881, chamada a Igreja da Missão Reformada Holandesa para as Pessoas de “cor” (DRMC- Sendingkerk). Depois de que a DRC puderam ser estabelecidas as igrejas racialmente separadas para os negros, que foi chamada Igreja Reformada Holandesa em África (DRCA), e para os indianos, a Igreja Reformada na África (RCA).

A teologia do apartheid entranhou-se na DRC, a qual foi clarificada quando o jornal oficial dela o “Kerkbode” escreveu em seu editorial em setembro de 1948, depois que o Partido Nacional chegou ao poder sobre a plataforma política do apartheid, “Apartheid é uma política da igreja”. Esta política significa na África do Sul, o supremacia branca e que todas as outras raças eram inferiores e deveram ser tratadas de maneira inferior. O resultado foi a opressão às pessoas inferiores não-brancas da África do Sul e da posição de privilégio dos brancos. A igreja (DRC) e o estado estavam ligados inextricavelmente em uma união não santa. O estado recebeu o revestimento protetor moral e teológico para as suas políticas injusta e do apartheid da DRC.

A resposta da Aliança Mundial de Igrejas Reformadas (Agosto de 1982)
Após décadas de esforço do lado das igrejas reformadas negras para retificar a situação, o tema teologia e prática racial na África do Sul entrou em pauta na reunião da Assembléia Geral da Aliança Mundial de Igrejas Reformadas (WARC) em Ottawa, Canadá (WARC - Agosto de 1982), por que a DRC, DRMC, DRCA e a RCA, eram membros da WARC. O Dr. Allan Boesak da então DRMC pediu à WARC para proferir um discurso sobre a situação na África do Sul. Em um discurso intitulado 'Ele nos fez todos, à exceção de...”, Dr. Boesak foi de encontro com o racismo e com o apartheid. Indicou que a WARC deve ter responsabilidade para com suas igrejas membros na África do Sul, que sofrem sob a teologia e a política do apartheid. Boesak pôs a DRC e outras igrejas reformadas brancas no meio deste debate, disse ele, “por conseguinte as igrejas brancas membros têm responsabilidade direta e o poder de mudar fundamentalmente a situação se quiserem. Devem ser dirigidas nos termos dessa responsabilidade e nos termos do desenvolvimento histórico do apartheid porque foi dirigido por essas igrejas. A WARC deve aceitar o desafio de dirigir-lhes o significado do apartheid como traição ao Evangelho e seja apresentado como indigno da tradição reformada”.

Em sua resposta, a WARC disse que: 'as Igrejas Reformadas Africanas Brancas através dos anos tem neste detalhe funcionado fora da própria política e da própria justificação teológica e moral para o sistema. O apartheid é conseqüentemente uma ideologia pseudo-religiosa tanto quando uma posição política. Deriva disso a sua justificação moral e teológica. A divisão das igrejas reformadas na África do Sul com base na raça e na cor está sendo defendida como uma interpretação fiel da vontade de Deus e da compreensão reformada da igreja no mundo'.

A WARC declarou que a situação na África do Sul constituiu-se em status confessionis – pelo que significa na compreensão da WARC acerca da matéria é impossível diferir sem seriamente abrutalhar a integridade de nossa confissão comum como igrejas reformadas.

Com base nesta situação, a WARC fez a seguinte declaração. “Declaramos com os cristãos reformados negros da África do Sul que o apartheid (desenvolvimento separado) é pecado, e que a justificação moral e teológica dele é uma falsificação do Evangelho e, em seu desobediência persistente à Palavra de Deus, uma heresia teológica”.

A DRMC em seu Sínodo no ano seguinte aos passos dados pela WARC declarou o seu status confessionis. A igreja concluiu que em uma situação como essa você tem que confessar de novo as verdades da Bíblia em confronto com à luz do pseudo-evangelho. A DRMC decidiu por redigir uma Confissão a fim fazê-lo. Era uma confissão em forma de conceito, que foi distribuído à toda a igreja inteira para os comentários e deveria ser finalizado no Sínodo seguinte a ser realizado em 1986. No Sínodo de 1986 da DRMC a Confissão foi aceita e se chamou a Confissão de Belhar de 1986. O nome Belhar na Confissão se refere subúrbio da Cidade do Cabo do mesmo nome aonde o Sínodo se reuniu. Esta confissão foi adotada também pelo DRCA. Quando a DRMC e a DRCA foram unificadas em 1994, dando forma a uma igreja nova, a Igreja Reformada Unida na África do Sul (URCSA -
http://www.ngkerk.org.za/VGKSA/Default.asp) transformou-se parte da base confessional da URCSA. Durante o Sínodo da DRMC em 1990, um monumento foi erigido e dedicado à ocasião da aceitação da Confissão de Belhar pelo então Moderador.
Re-dedicação do monumento de Belhar

Em 30 de setembro de 2006, o monumento Belhar monument foi re-dedicadoi pelo moderador do Sinodo Geral da URCSA, Prof. S. Thias Kgatla.
O monumento de Belhar é um dos locais históricos mais visíveis e mais importantes da Igreja Reformada Unida na África do Sul. Em 30 de setembro de 2006, o Conselho da Igreja Gestig (a igreja local mais antiga da URCSA) em cuja propriedade o monumento foi construído transferiu o local simbolicamente ao Sínodo Geral, para que cuidados especiais de preservação fossem adotados pela igreja em nível nacional.

E a DRC, ou NGK? Segundo o site
http://www.ngkerk.org.za/english/history.asp?button_pushed=2, desde 1994 o ideal de unificação com a Igreja Reformada Unida na África do Sul tem sido perseguido e concretizado em reuniões conciliares em conjunto entre a DRC a URCSA e RCA e há muita coisa ainda a ser feita para a plena unificação. Há questões teológicas outras a demarcar visíveis distinções. Mas é absolutamente alentador o fato de que ninguém mais defende ou justifica o apartheid. De fato, nas últimas décadas do Século passado, a DRC tem sofrido seriamente por causa do relacionamento igreja e sociedade, o que resultou na publicação do documento “Igreja e Sociedade” em 1990 e a rejeição um tanto tardia ao apartheid somente em 1998.
Muito recentemente, em 2007, a Reformed Church na América – RCA - http://www.rca.org/ - antiga Igreja Reformada Holandesa dos EUA, uma igreja bem liberal, bastante deferente de sua co-irmã CRCNA - http://www.crcna.org/ - não se fez de rogada e incluiu aos seus padrões confessionais a Confissão de Belhar, agora os símbolos de união “adotados” por lá não são mais três (Confissão Belga, Cânones de Dort e Catecismo de Heildelberg) mas 4, estes e mais a Confissão de Belhar.

Fontes: Informações dos sites mencionados.

A CONFISSÃO DE FÉ DE BELHAR


1. Cremos num Deus trino, Pai, Filho e Espírito Santo, que une, protege e cuida da Igreja por meio da Palavra e do Espírito, como tem feito desde a criação do mundo e o fará até a sua consumação.
2. Cremos em uma santa igreja cristã universal, na comunhão dos santos chamados de toda a família da terra.

Cremos:

- Que a obra reconciliadora de Cristo faz-se manifesta na Igreja enquanto comunidade de crentes reconciliados com Deus e uns com os outros (Efésios 2: 11-22);

- Que a unidade, portanto, de igual forma dom e obrigação à Igreja de Jesus Cristo; mantida através da obra do Espírito de Deus é ao mesmo tempo força vinculante e, simultaneamente, realidade a ser seriamente perseguida e desejada: à qual o povo de Deus deve continuamente ser incentivado a obtê-la (Efésios 4:1-16);

- Que esta unidade deve ser visível para que o mundo possa ver que a separação, inimizade e o ódio entre pessoas e grupos é pecado; o qual Cristo já o venceu, e como conseqüência qualquer coisa a ameaçar esta unidade não terá lugar na Igreja e deve ser resistida (João 17: 20-23);

- Que esta unidade do povo de Deus deve ser manifesta e ativa em várias formas: que nos amamos uns aos outros; que experimentemos, pratiquemos e persigamos a comunhão uns com os outros, que estejamos obrigados a doar-nos voluntariamente e alegremente para servir de beneficio e bênção de uns para com os outros; que compartilhamos uma só fé, tenhamos um só chamado, sejamos de uma só alma e de uma só mente; tenhamos um só Deus e Pai, sejamos cheios de um mesmo Espírito, sejamos batizados em um só batismo, comamos de um mesmo pão e bebamos de um mesmo cálice; confessemos um só nome, obedeçamos um só Senhor, trabalhemos para uma mesma causa, e compartilhemos de uma mesma esperança; juntos cheguemos a conhecer a altura, largura e a profundidade do amor de Cristo; juntos sejamos formados à estatura de Cristo, à nova humanidade; juntos conhecemos e suportamos as cargas uns dos outros, desse modo cumprimos a lei de Cristo que nos necessitamos uns aos outros e cresçamos uns com os outros; admoestando-nos e confortando-nos uns aos outros; que soframos uns com os outros por causa da justiça; oremos juntos; juntos sirvamos a Deus neste mundo; e juntos lutemos contra tudo o que possa ameaça ou estorvar esta unidade (Filipenses 2: 1-5; 1 Coríntios 12:4-31; João 13:1-17; 1 Coríntios. 1:10-13; Efésios 4:1-6; Efésios 3:14-20; 1 Coríntios. 10:16-17; 1 Coríntios. 11:17-34; Gálatas 6:2; 2 Cor. 1:3-4);

- Que esta unidade somente pode ser estabelecida em liberdade e não sob obrigação; que a variedade de dons espirituais, oportunidades, origens, convicções, bem como a variedade de línguas e culturas são, pela virtude da reconciliação em Cristo, oportunidades para o serviço mútuo e o enriquecimento dentro do visível povo de Deus (Romanos 12:3-8; 1 Coríntios. 12:1-11; Efésios 4:7-13; Gálatas 3:27-28; Tiago 2:1-13);

- Que a verdadeira fé em Jesus Cristo é a única condição para ser membro desta Igreja.

Portanto, rechaçamos qualquer doutrina:

- Que torne absoluta a diversidade natural ou a separação pecaminosa de pessoas de tal modo que esta absolutização obstaculize ou rompa a união ativa e visível da Igreja, ou inclusive aponte para o estabelecimento ou formação de uma Igreja separada;

- Que professe que esta unidade espiritual verdadeiramente está sendo mantida no vinculo da paz enquanto os crentes da mesma confissão, com efeito, estão sendo alienados uns dos outro para o bem da diversidade e em prejuízo da reconciliação;

- Que nega que a constante recusa a perseguir esta visível unidade como um dom sem preço seja pecado;

- Que explícita ou implicitamente sustente que a inferioridade ou qualquer outro fator humano ou social deve ser levado em consideração para determinar a membrezía da Igreja.

3. Cremos:

    • Que Deus confiou à Igreja a mensagem da reconciliação por intermédio de Jesus Cristo; que a Igreja é chamada para ser sal da terra e luz do mundo, que a Igreja foi chamada bem-aventurada por que é pacificadora, que a Igreja é testemunha tanto por palavras quanto por atos dos novos céus e da nova terra onde mora a justiça (2 Coríntios. 5:17-21; Mateus . 5:13-16; Mateus 5:9; 2 Pedro 3:13; Apocalipse. 21-22);
    • Que Deus por sua Palavra que dá vida e pelo seu Espírito triunfou sobre o pecado e a morte, e, portanto, também sobre a não reconciliação e o ódio, a amargura e a inimizade, que Deus por sua Palavra que dá vida e pelo seu Espírito capacitará a Igreja a viver em uma nova obediência a qual pode abrir novas possibilidades de vida para a sociedade e para o mundo (Efésios 4:17–6:23; Romanos 6; Colossenses 1:9-14; Colossenses 2:13-19; Colossenses 3:1–4:6);
    • Que a credibilidade desta mensagem é seriamente afetada e sua benéfica obra é obstaculizada quando é proclamada em uma terra que professa ser cristã, mas impõe a separação de pessoas sobre um fundamento racial promove e perpetua a recusa, o ódio e a inimizade;
    • Que qualquer ensinamento que tente legitimar tal separação forçada apelando em nome do evangelho, e não está preparada a aventurar-se pelo caminho da obediência e da reconciliação; mas ao invés disso, pelo do preconceito, medo, egoísmo e incredulidade, nega por antecipação o poder reconciliador do evangelho, deve ser considerada ideologia e falsa doutrina.

Portanto, rechaçamos qualquer doutrina

- Que em tal situação sancione em nome do evangelho ou da vontade de Deus a separação forçada de pessoas por motivos de raça e cor e desse modo de antemão obstrua e debilite o ministério e a experiência de reconciliação em Cristo.

4. Cremos:

  • Que Deus tem se revelado o mesmo que deseja seja alcançada a justiça e a verdadeira paz entre os homens;

  • Que Deus em um mundo cheio de injustiça e inimizade, é de uma forma especial o Deus do indigente, do pobre e do errado e chama a sua Igreja a segui-lo nisso;

  • Que Ele traz justiça aos oprimidos e dá pão aos famintos;

  • Que Deus liberta o prisioneiro e restaura a vista ao cego;

  • Que Deus ajuda ao oprimido, protege ao estrangeiro, ajuda aos órfãos e viúvas e obstrui o caminho dos ímpios;

  • Que a religião pura e imaculada para com Deus é visitar aos órfãos e às viúvas em seus sofrimentos;

  • Que Deus deseja ensinar à Igreja a fazer o que é bom e a buscar o que é correto (Deuteronômio 32:4; Lucas 2:14; João 14:27; Efésios 2:14; Isaias 1:16-17; Tiago 1:27; Tiago 5:1-6; Lucas 1:46-55; Lucas 6:20-26; Lucas 7:22; Lucas 16:19-31; Salmos 146; Lucas 4:16-19; Romanos 6:13-18; Amós 5);

  • Que a Igreja, portanto, deve ajudar às pessoas em qualquer tipo de sofrimento e necessidade, o que implica, entre outras coisas, que a Igreja deve testificar e esforçar-se contra qualquer tipo de injustiça, para que a justiça flua como cascatas de água e a honradez como uma corrente permanente;

  • A fim de que a justiça possa correr mais como águas de volumosas torrentes, e menos apenas como um arroio a fluir;

  • Que a Igreja como possessão de Deus deva parar aonde o Senhor parar, ou seja, ser contra a injustiça e a favor do oprimido, que em seguir a Cristo a Igreja deve testificar contra todos os poderosos e privilegiados que egoisticamente buscam seu próprio interesse e assim controlam e aniquilam os outros.

Portanto, rechaçamos qualquer ideologia

- Que possa legitimar formas de injustiça e qualquer doutrina que não esteja disposta a resistir tal ideologia em nome do evangelho.

5. Cremos que, em obediência a Jesus Cristo, sua única cabeça, a Igreja é chamada a confessar e a fazer todas estas coisas, ainda que as autoridades e as leis humanas possam proibi-las e castigos e sofrimentos venham por conseqüência (Efésios 4:15-16; Atos 5:29-33; 1 Pedro. 2:18-25; 1 Pedro 3:15-18).

Jesus é Senhor.

Ao único Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, seja a honra e a gloria pelos séculos dos séculos.